Posso dizer que, na questão de um
codependente, o que me seduziu no
Alexandre foi a relação que ele estabelecia com as drogas. Ele deu o papel de heroína para mim.
O codependente precisa buscar
recuperação por si, para si e querer isso. O processo muda de tal forma, que o dependente não é mais razão da sua felicidade.
Quando o codependente está em
recuperação, ele admite que não tem
controle sobre o uso do outro.
Ao admitir isso, olha para si mesmo.
Viva e deixe viver´ é a maior admissão da impossibilidade de controlar o outro, e acontece quando o codependente, durante o processo, admite o caos.
Livro traz história de como codependente se relaciona com uso de drogas
A cobertura da mídia e da discussão sobre o uso de drogas mira sempre no dependente e seus dramas. Poucas vezes se fala sobre o codependente ou a codependência, termo usado para descrever um padrão de comportamento de quem se coloca em segundo plano e foca quase unicamente nas necessidades emocionais e físicas de outra pessoa, o dependente.
Este é o tema do livro “Com licença, codependência, estou na luta!”, da assistente social e professora Edna Thome de Souza, editado pela Ponto Z.
Mais que especialista em dependência química e codependencia e em títulos afins, Edna é também a personagem central do livro, que narra a história da convivência, por mais de duas décadas, com seu falecido marido, Alexandre (1967-2012).
Cheia de altos e baixos, a narrativa, na primeira pessoa, culmina com a criação de uma organização da sociedade civil (antiga ONG) Comunidade SÓ POR HOJE (www.csph.org.br) em 1994, que atua no atendimento de moradores de rua, acolhimento de crianças e adolescentes, além da unidade de Potirendaba que hoje cuida de dezenas de dependentes químicos.
Além dos dramas pessoais e familiares, Edna recheia seu relato com ricas pitadas de informações teóricas, próprias de quem, ao longo da vida, aprendeu na prática e na academia sobre o que é e como lidar com a codependência. “É praticamente uma aula, quase um curso, apesar da crueza e da nudez da história”, diz o editor Edmilson Zanetti.
O prefácio é do jornalista e cientista social Jessé Fernandes, presidente do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, em Rio Preto, para quem, mais do que um romance, “o livro conta, de forma corajosa, uma história de codependência e, com ela, cumpre os objetivos de incentivar mães e esposas, maridos, filhas, filhos e outros familiares a buscar ajuda especializada, com terapeutas ou grupos de apoio de ajuda mútua; é um grito de socorro às autoridades que elaboram e aprovam as políticas públicas”.
A apresentação do livro descortina uma verdade que dói. “Entre o dependente e o codependente existe um forte vínculo familiar ou afetivo. O exemplo clássico é o pai ou a mãe que dá dinheiro para o filho ou a filha comprar drogas, ou que acompanha até a chamada ‘biqueira’ (ponto de tráfico) com a ilusão de que está protegendo a pessoa que tanto ama”.
A renda da venda do livro é revertida para a organização fundada por Alexandre e administrada por Edna.
EDNA THOME DE SOUZA
A AUTORA
Edna é especialista em Saúde Mental - Ênfase em Dependência Química, em Direção de Programas Terapêuticos, em Geografia e Meio Ambiente, em Política Social no Contexto Neoliberal e em gestão na Educação.
É fundadora da CSPH (Comunidade Só Por Hoje), onde atua como coordenadora de projetos desde 1994, e assessora técnica no segmento criança e adolescente.
Atual segunda-presidente da Febract (Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas), ministra cursos e profere palestras em todo o país.
É conselheira do Condeca (Conselho Estadual dos Direitos da Crianças e do Adolescente) e do CMDCA (Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente), de São José do Rio Preto.
Tem licenciatura em Geografia, graduações em Estudos Sociais e em Serviço Social. Por mais de 20 anos exerceu o magistério e foi também professora no ensino universitário.
Hoje Edna milita na defesa da implantação de uma política pública para atendimento especializado e gratuito para codependentes.
A AUTORA E A OBRA,
PELO PREFACIADOR
Jessé Fernandes,
55 anos, assistente social, cientista social e jornalista; presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Rio Preto, gestão 2023-2025
A humanidade passou a consumir drogas em larga escala nos últimos 50 anos. Porém, o uso de substâncias que podem hoje ser classificadas como drogas lícitas ou ilícitas é tão antigo quanto a própria história do homem, e abrange diferentes aspectos da vida social, da religião, da arte e da cultura, mas principalmente a geopolítica e a economia internacional.
(…)
É dentro dessa realidade complexa que se situam os dependentes. E, com eles, os codependentes, milhões de seres humanos que ingressam numa difícil jornada sem fazer propriamente a escolha, e que muitas vezes são invisíveis aos olhos de quem se debruça sobre a questão das drogas.
O codependente pode ser descrito pela combinação do senso exagerado de responsabilidade com a dificuldade para expressar necessidades próprias, a falta de limites pessoais e a tendência a negligenciar o autocuidado em favor do dependente. Nesse sentido, codependência é o termo usado para descrever um padrão de comportamento de quem se coloca em segundo plano e foca quase que unicamente nas necessidades emocionais e físicas de outra pessoa, o dependente.
Geralmente, entre o dependente e o codependente existe um forte vínculo familiar ou afetivo.
(…)
Mais do que um romance, este livro que você tem em mãos conta, de forma corajosa, uma história de codependência e, com ela, cumpre dois objetivos: 1) incentivar mães e esposas, maridos, filhas, filhos e outros familiares a buscar ajuda especializada, com terapeutas ou grupos de apoio de ajuda mútua; 2) ser um grito de socorro às autoridades que elaboram e aprovam as políticas públicas.
As famílias precisam de acolhimento e atendimento especializados, de forma universal e gratuita, com suporte necessário para lidar com desafios relacionados à codependência.
(…)
A autora deste livro tão importante quanto necessário, a professora Edna Thome de Souza, é educadora de destaque em São José do Rio Preto (SP), dedicada à formação profissional de jovens e adultos por meio da Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas. Também lecionou no ensino superior e na Cooperativa de Ensino Dr. Zerbini (Coopen) por quase duas décadas.
Em 1994, fundou a Comunidade Só por Hoje ao lado do marido, Alexandre, que morreu em 2012. A CSPH é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que presta serviços gratuitos para crianças, adolescentes e adultos em situação de vulnerabilidade e risco social, mantendo uma casa de acolhimento em Potirendaba (SP).
Com o capital de conhecimento acumulado, a bandeira da professora Edna tem sido, há muitos anos, exatamente a necessidade de termos políticas públicas e serviço especializado multiprofissional para atender a familiares de dependentes. E é possível: basta ver a experiência do programa Prevenir, criado no estado de São Paulo em 2023, que mantém portas abertas para apoiar famílias de dependentes químicos na fase final ou que já completaram o tratamento, buscando, entre outros, fortalecimento de vínculos familiares com qualidade de vida.
A codependência precisa ser olhada de perto. De muito perto. A história da professora Edna, sua força e sua dedicação certamente podem inspirar isso.
Boa leitura
Noite de lançamento do livro e palestra da autora
24.11.2023, Senac Rio Preto
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